Como a fono pode ajudar seu filho a comer melhor
Publicado em 09.12.2015 | por Patrícia Junqueira (foto: freeimages)
Sou fonoaudióloga e há 25 anos trabalho com bebês e crianças com
algum tipo de dificuldade para se comunicar. Na semana que estreio como
colunista do It Mãe, aliás, comemora-se o Dia do Fonoaudiólogo. Mas você
sabia que o trabalho desse profissional vai além da linguagem? Talvez
nunca tenha pensado nisso, no entanto, quando uma criança fala,
ela necessita dos mesmos órgãos que utiliza para sugar, deglutir,
mastigar e respirar. Todos esses aspectos se relacionam entre si e
influenciam o desenvolvimento infantil como um todo. Por isso,
os fonoaudiólogos estudam tanto a prevenção, quanto estratégias que
possam colaborar com a habilidade dessas funções. Nesse primeiro
post, abordo cinco problemas comuns na criança com dificuldade
alimentar, que merecem a avaliação de um profissional.
“Dói! Eu não se sinto bem”
Os problemas orgânicos devem ser o primeiro ponto a ser investigado.
Os mais comuns são alergias alimentares, refluxo gastro-esofágico,
esofagite eosinofílica, constipação grave, ou qualquer outro sintoma que
faça a criança se sentir mal fisicamente. Os sintomas decorrentes
dessas alterações como dor e desconforto, durante ou logo após ser
alimentado, faz com que o bebê ou a criança associe desprazer ao momento
da alimentação, recusando-a para se proteger. Detectar e tratar uma
possível origem fisiológica é, por isso, prioridade.
“Eu não consigo”
Alterações da motricidade orofacial incluem qualquer problema físico
na região oral que faça com que seja difícil conseguir organizar (isso
mesmo!) a comida à boca, mastigar, respirar e deglutir. Problemas
anatômicos como fenda lábio-palatina, malformações da traqueia e
esôfago, frênulo de língua curto, problemas dentários e/ou má-oclusão
dos dentes, hipertrofia de adenóides e amígdalas e aumento da
sensibilidade oral (ou seja, a maneira como as células nervosas da
região percebem sabor, textura, temperatura etc.) são alguns exemplos
que dificultam o processo de alimentação como um todo.
“Sinto-me desconfortável com essa textura, com esse sabor, com esse cheiro e com esse barulho”
As crianças com desafios de integração sensorial – que é a maneira
como o cérebro recebe e processa as informações por meio dos cinco
sentidos – percebem e sentem os sabores e texturas de modo muito
intenso. Geralmente, acabam selecionando os alimentos com os quais
sentem conforto e dificilmente aceitam mudanças. Essa seleção quase
sempre está relacionada ao modo como as crianças recebem e interpretam o
estímulo sensorial dos alimentos. É comum que crianças com esse tipo de
dificuldade, por exemplo, prefiram comer somente alimentos suaves ou
crocantes com textura uniforme. Há ainda aquelas cujas preferências
incluem apenas sabores brandos e outras que apreciam comidas fortes e
picantes. O odor e a temperatura do alimento também pode determinar se
elas irão ou não apreciar o que está no prato.
“Eu não quero assim! Eu quero fazer do meu jeito.”
Muitas das famílias que me procuram descrevem seus filhos de modo
bastante semelhante: se comunicam verbalmente e são muito inteligentes;
tem um forte desejo para descobrir as coisas em seu próprio tempo e à
sua maneira; sentem-se facilmente frustrados; e expressam suas emoções
de modo intenso. Muitas crianças que apresentam dificuldade alimentar
extrema, apresentam uma natureza independente e muitas vezes inflexível.
Costumam ser determinados e não gostam de mudar o modo como brincam,
comem, e fazem as coisas.
“Estou com medo…. Vai acontecer de novo…”
Se, no passado, o ato ou desejo de comer resultou em uma sensação
desconfortável ou assustadora, o apetite de uma criança pode diminuir.
Por exemplo, um episódio de engasgo pode desencadear medo, ao ponto da
criança deixar de comer e perder peso rapidamente. Uma criança que tenha
sido forçada a comer, por sua vez, também pode ficar com medo e “fugir”
da mesa. Outras experiências aversivas incluem aspiração (comida em
vias aéreas ou pulmões) ou vômitos recorrentes.
Em resumo, os comportamentos alimentares inadequados muitas vezes são
adaptações que a própria criança cria para protegê-la de algum
sofrimento ou desconforto. É fundamental descobrir o que está por trás
das dificuldades alimentares dela, para que você possa entendê-la e
auxiliá-la nesse processo – ora evitando certos tipos de comidas e
situações, ora mudando de atitude diante de tantos nãos à mesa. Vale ressaltar que não temos regras prontas: para cada problema e/ou situação, o profissional pode adotar uma conduta diferente. E assim, sem julgamentos e comparações, você poderá ajudar seu filho a desenvolver uma relação positiva com os alimentos.
Fonte: http://itmae.uol.com.br/baby-and-kids/como-a-fono-pode-ajudar-seu-filho-a-comer-melhor
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