O trabalho de cooperação entre a ortodontia e outras especialidades da área da saúde facilita o tratamento, ajuda na recuperação e traz benefícios ao paciente.
Fonoterapia e Ortodontia no
tratamento odontológico
No tratamento odontológico, muitas vezes, a
integração da Ortodontia com outras especialidades da área da saúde é
fundamental para obter o resultado desejado. Dentre essas especialidades, a
Fonoaudiologia tem papel multidisciplinar na melhoria das funções reparadores e
estéticas da Ortodontia. Angle, em 1907, já afirmava que a respiração oral
seria a mais potente e constante causa da maloclusão, causando desenvolvimento
assimétrico dos músculos, ossos do nariz, maxila, mandíbula e uma
desorganização das funções exercidas pelos lábios, bochechas. A saliva é
deglutida aproximadamente uma vez a cada dois minutos durante o dia e uma vez a
cada três minutos durante a noite. Se a língua estiver posicionada
inadequadamente, a força exercida colocará a perder o melhor tratamento
ortodôntico para a mordida aberta anterior, por exemplo.
"A recidiva é praticamente certa, pois a causa
ou pelo menos uma das causas principais não foi tratada. Não poderemos obter
sucesso terapêutico sem o trabalho multidisciplinar nesses casos", informa
Deli Montanari Navas, Fonoaudióloga e Doutora em Ciências na área de
Fisiopatologia Experimental pela Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP). Assim, os pacientes portadores de alterações miofuncionais orais
devem ser avaliados e acompanhados por pelo menos três profissionais: o
ortodontista, o fonoaudiólogo e o médico otorrinolaringologista e/ou alergista.
"O comprometimento da musculatura e das funções orofaciais leva a uma
modificação da forma ou mesmo da oclusão dentária", acrescenta.
Como a ciência que objetiva, na especialidade de
motricidade oral, o restabelecimento das funções respiratórias, mastigatórias,
atos de deglutição e fala, visando o equilíbrio miofuncional, a Fonoaudiologia
trabalha com a Fonoterapia nos casos de distúrbios orofaciais aplicando
exercícios que são capazes de corrigir a respiração bucal, padrões de
mastigação e deglutição, bem como vícios posturais da língua, de forma a
cooperar com a Ortodontia. Mas para que o sucesso no tratamento seja alcançado,
é imprescindível que o ortodontista identifique a necessidade da Fonoterapia e
encaminhe o paciente ao fonodiólogo.
De acordo com a doutora Deli, todos os casos em que
o ortodontista suspeite de possível comprometimento da musculatura orofacial,
tanto em relação ao tônus muscular e as funções quanto em relação a postura dos
órgãos fonoarticulatórios - lábios, língua e bochechas - devem ser encaminhados
para avaliação e tratamento. "Funções orofaciais compreendem a respiração,
o sopro, a sucção, a mastigação, a deglutição e a fala. A postura é definida
como a posição de repouso, ou seja, a forma como o paciente mantém os lábios e
a língua quando não está exercendo atividades de fala. Ã importante a postura
da língua e a atividade da musculatura orofacial no momento da
deglutição", explica.
Geralmente, o comprometimento das funções
orofaciais é indicativo de alterações muscular e postural, com exceção da fala.
Isto porque entre os distúrbios articulatórios existem os chamados distúrbios
fonológicos, mais frequentes em crianças que apresentam alterações na produção
dos sons da fala, sem que haja comprometimento da habilidade motora. Sua origem
é atribuída a alguma dificuldade de organização entre a percepção e a produção
da fala. Mas o correto diagnóstico só pode ser feito por um profissional
especializado; por isso a Ortodontia, que trata da forma, e a fonoaudiologia,
que cuida da função, têm que trabalhar em conjunto, avaliar as possibilidades,
trocar informações e planejar o melhor tratamento.
Para a doutora Deli, o início do tratamento é o
momento ideal para que o ortodontista encaminhe o paciente ao fonoaudiólogo, de
preferência durante o período de estudo do caso. "Acredito que o
diagnóstico e o planejamento terapêutico seriam muito mais fáceis e corretos se
houvesse uma associação fonoaudiológica e ortodôntica", ressalta. Por
outro lado, caso o paciente passe primeiro por um fonoaudiólogo e este perceber
qualquer tipo de alteração oclusal, deve encaminha-lo a um ortodontista para
avaliação e planejamento terapêutico.
"Não existem regras, pois há muitas variáveis
entre os casos. A melhor atitude é a discussão entre os profissionais, caso a
caso, para sabermos qual tratamento devemos priorizar", pondera doutora
Deli. Como exemplo, ela cita algumas discrepâncias entre maxila e mandíbula no
sentido vertical ou sagital, em que o fechamento labial torna-se impossível,
impedindo o estabelecimento do padrão respiratório nasal. "Nestes casos,
seria indicado primeiramente um aprimoramento da condição morfológica para
melhores resultados posteriores no tratamento fonoaudiológico. Ã muito
importante que o ortodontista, quando em casos de suspeita de alteração
miofuncional oral, não finalize o tratamento sem uma avaliação fonoaudiológica
prévia, pelo risco de recidivas", completa.
O tratamento com Fonoterapia abrange todas as
faixas etárias, ou seja, não existe um limite de idade para submeter-se aos
exercícios. Segundo a doutora Deli, o que importa, na verdade, é o caso e a
motivação. "Os adultos têm uma plasticidade menor, mas o que vale mesmo é
o empenho, pois muitos dos exercícios requerem atenção e dedicação",
garante. Existem alguns casos que são mais difíceis de se trabalhar, como por
exemplo, quando a morfologia não ajuda, e o paciente entre a cavidade oral e a
língua.
Na verdade, o sucesso do tratamento fonoaudiológico
depende de uma eficiente respiração nasal. Tanto as obstruções causadas por
hipertrofias adenoamigdalinas como as alergias ou rinites dificultam o sucesso
terapêutico. Por isso, nos casos de obstruções nasais é fundamental, já na
avaliação, encaminhar os pacientes para o tratamento. Sem a desobstrução das
vias áreas superiores, o tratamento fonoaudiológico fica extremamente
comprometido ou impossibilitado, causando desgaste do paciente e resultados
pobres. "O que mantém o tônus muscular é a posição de repouso adequada:
respiração nasal, boca fechada e postura de língua correta. Se o paciente não
consegue respirar bem pelo nariz, a boca fará esse trabalho, comprometendo o
tratamento", esclarece.
Outro fator importante, de acordo com a doutora
Deli, é a motivação do paciente e da família para o tratamento, que muitas
vezes exige exercícios diários. "O processo de motivação é iniciado a
partir da forma como o paciente foi encaminhado para o tratamento
fonoaudiológico. O profissional que o encaminha deve explicar previamente sobre
a importância desse tratamento para o sucesso no resultado final: ortodôntico e
fonoaudiológico, informando que são interdependentes. Todas as técnicas
utilizadas pelo fonoaudiólogo devem ser explicadas ao paciente, utilizando
linguagem adequada para cada idade, para que este esteja envolvido no processo
terapêutico, obtendo assim resultados mais rápidos e satisfatórios, antes que a
motivação se esvaia. Os músculos orofaciais respondem muito rapidamente ao
trabalho miofuncional, quando bem orientado e executado. Os resultados rápidos
funcionam como reforço positivo a continuidade do tratamento. Normalmente os
resultados fonoaudiológicos são conseguidos muito anteriormente aos resultados
ortodônticos. Portanto, os pacientes permanecem em acompanhamento por períodos
mais espaçados e prolongados até o final completo do tratamento, aproveitando
este tempo para a garantia do processo de automotivação dos padrões e posturas
trabalhados, realizado pelo sistema nervoso central", destaca.
A fonoaudiologia pode atuar ainda na prevenção dos
distúrbios orofaciais, por meio de orientação as mães ainda na maternidade. A
forma correta da amamentação, a introdução das diversas consistências de
alimentos no momento certo e a atenção com relação aos possíveis hábitos
nocivos da criança, como chupar chupeta e dedos por período prolongado, são
fatores essenciais para evitar problemas no padrão de deglutição infantil e que
podem ocasionar mal-posicionamento dos dentes.
Fonte:http://www.orthomundi.com.br/orthomundi/pagina/13/fonoterapia-e-ortodontia
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