Enquanto você lê essas palavras, seu cérebro está fazendo um rápido
processo de assimilar cada uma das letras, juntando-as até que virem
sílabas e depois palavras inteiras. Se você for um leitor proficiente,
você lerá de cinco a oito palavras ao mesmo tempo. Mas até chegar nesse
estágio de leitura, trilhamos um percurso que começa ainda na Primeira
Infância.
A alfabetização, ou seja, o conhecimento da leitura e da escrita,
repousa no conhecimento da língua oral. Com o avanço da ciência,
especialmente da neurologia, é possível saber que aos 2 anos de idade os
bebês já são capazes de compreender o sentido das palavras que ouvem,
assimilando em seu vocabulário e criando sentido para elas. Entre os 4 e
os 5 anos, eles estarão preparados para avançar nesse conhecimento, ou
seja, aprender o sentido das palavras, decompor palavras em sílabas e
identificar o ataque e rima de cada uma delas.
Porém, ao contrário da assimilação da língua oral, que acontece
naturalmente, a consciência dos fonemas e a capacidade de identificar
letras são pré-requisitos básicos para a alfabetização que precisam ser
ensinados – eles não acontecem naturalmente como pode-se crer num
primeiro momento.
Para aprender a ler, a criança precisa aprender a decodificar a fala
como uma sequência de fonemas, associando estes com as letras e grafemas
(grafema é unidade mínima da escrita que pode ser uma letra, “a”, ou um
dígrafo, como “ch”). Isto é muito mais complexo do que uma notação ou
uma cifra musical – e por isso aprender a ler e a escrever é difícil.
Mas é só reconhecendo esta dificuldade podemos fazer uma boa
alfabetização.
De acordo com a pesquisadora italiana Marialuisa Martelli, autora de um dos artigos que compõem o livro Alfabetização: em que consiste – como ensinar,
a leitura começa com a decodificação visual, uma habilidade que evoluiu
muito rapidamente nos humanos: com seis meses de idade a criança já se
encontra muito próxima à funcionalidade de um adulto, e, com um ano de
idade, fica perfeito. Portanto, nossa habilidade para ver objetos
desenvolve-se muito rapidamente e é influenciada pela experiência. Se
você priva o bebê e esse desenvolvimento não ocorre, o próximo estágio,
que é decodificar as letras, fica mais lento.
Essa decodificação não é algo que aconteça automaticamente e essa é,
segundo Martelli, a razão pela qual as crianças precisam estar expostas a
letras desde cedo e com muita frequência. Programas de televisão como o
Vila Sésamo, de reconhecida eficácia para ajudar na preparação das competências de leitura, usam essa informação para dosar a apresentação das letras no período que antecede a entrada das crianças na escola formal.
Portanto, a habilidade de ler das crianças começa quando ela cria
consciência da representação dos sons em letras. E essa capacidade para
decodificar letras aumenta com a idade e vai melhorando a longo prazo,
na medida em que nos tornamos mais eficientes no reconhecimento, até
atingirmos um platô por volta dos 10 anos de idade. Com o treino devido,
ao atingirmos essa idade nos tornamos exímios em reconhecer letras e,
consequentemente conseguimos ler mais e melhor sozinhos.
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Se você ficou curioso para saber mais sobre o processo de
alfabetização das crianças e o que mostram as evidências científicas
sobre isso, não deixe de baixar o lançamento do Instituto Alfa e Beto, Alfabetização: em que consiste – como ensinar, escrito por quatro renomados pesquisadores internacionais e organizado pelos professores João Batista Oliveira e José Morais.
Fonte: http://www.alfaebeto.org.br/arquivos/6058/habilidades-para-ler/
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