Ninguém duvida que o leite materno é o alimento mais completo que
existe: rico em vitaminas, minerais, cálcio, gorduras benéficas e
bactérias do bem, ele é capaz de proteger os bebês de uma série de doenças.
Por isso, entidades do mundo inteiro, como a Organização Mundial da
Saúde, orientam que a amamentação seja exclusiva até a criança completar
6 meses de vida. Depois desse período, o crescimento dos pequenos exige
doses extras de nutrientes - daí porque é necessário complementar a sua
alimentação com frutas, verduras, legumes, cereais, carnes...
Mas você já se perguntou por que isso acontece aos 6 meses e não aos
8, por exemplo? "Entre 4 e 6 meses é o momento que a criança consegue
sentar com apoio, identificar sabores e também quando certas enzimas
responsáveis pela digestão começam a funcionar", responde a pediatra
nutróloga Virgínia Resende Silva Weffort, professora da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em Minas Gerais. Além dessas,
outras transformações no organismo do bebê fazem do sexto mês o período
ideal para introduzir novos alimentos
em sua dieta. Consultamos um time de especialistas para saber quais são
essas mudanças e o que está por trás de cada uma delas. Confira a
seguir.
Desenvolvimento neuropsicomotor
A partir do segundo trimestre de gestação, o cérebro do bebê passa
por um processo conhecido como mielinização, que consiste na formação da
bainha de mielina. Essa estrutura funciona como uma capa que recobre os
neurônios e facilita a comunicação entre eles. "Os impulsos nervosos
passam melhor. É como uma corrente elétrica", compara Virgínia. Isso
tudo ocorre de forma progressiva, mas é entre 4 e 6 meses de vida que os
nervos se encontram mais maduros. "A sua função está mais aprimorada e é
isso que faz com que a criança ande, sente, fale...", relata a
professora da UFTM.
Aliás, o desenvolvimento motor é um dos principais fatores para que o
pequeno esteja apto a engolir a papinha. "Para um bebê receber outros
alimentos, ele tem que conseguir sentar, sustentar bem a cabecinha, o
tronco e, principalmente, perder aquele reflexo de esticar a língua para
mamar e acabar, assim, empurrando a colher para fora", explica a
pediatra nutróloga Fabíola Isabel Suano de Souza, do departamento
científico de nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). E
isso acontece exatamente em torno de 6 meses.
Desenvolvimento cognitivo
Aos 6 meses, o bebê está preparado para interagir com o mundo ao seu
redor. "Nessa fase, ele tem curiosidade de abrir a boca e provar as
coisas", conta Fabíola. Está aí, portanto, mais um motivo por que esse é
o momento ideal também para a introdução dos sólidos.
Sistema gastrointestinal
Quando nascemos, alguns órgãos - em especial aqueles do trato
digestivo - ainda não funcionam da maneira como deveriam. "O intestino é
menos desenvolvido para a absorção de nutrientes; já o pâncreas e o
fígado não conseguem liberar enzimas em quantidade adequada", esclarece a
especialista da SPSP. E aos 6 meses, todas essas funções se encontram
em ordem.
"Certas enzimas digestivas começam a ser mais eficazes no sexto mês,
devido à quantidade de alimentos que o bebê vai comer", ensina o
pediatra Ary Lopes Cardoso, responsável pela Unidade de Nutrologia do
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. Além disso, a
capacidade do intestino de barrar agentes estranhos é maior nesse
período. "Aos 6 meses, as bactérias intestinais já estão instaladas e
protegem a criança de possíveis infecções", garante Fabíola Suano.
Maturação renal
Entre as importantes funções exercidas pelos rins estão a filtragem e
a eliminação de água e sal, promovendo o equilíbrio desses dois
elementos no corpo. Acontece que, antes dos 6 meses, o par de órgãos não
está maduro o suficiente para desempenhar esse papel. "Ele não tem
capacidade de eliminar grandes quantidades de sódio", diz Cardoso. E
saiba que, embora esse mineral seja famoso por compor o sal de cozinha,
ele também está presente em alimentos como verduras e legumes - o que
pode sobrecarregar os rins de um bebê de poucos meses.
Sistema imunológico
Um sistema imune mais maduro é capaz de impedir, entre outras coisas, que a criança desenvolva a alergia alimentar.
E o momento em que as defesas do corpo estão prontinhas para entrar em
contato com novos nutrientes e proteínas é, mais uma vez, em torno dos 6
meses. "Nessa fase, o sistema imune não reconhece esses elementos como
estranhos e não dispara, portanto, uma reação alérgica", justifica
Virgínia Weffort, da UFTM. Isso é mais provável de acontecer em um bebê
menorzinho.
Os riscos de introduzir os sólidos muito cedo... ou muito tarde!
Introduzir novos alimentos na dieta do pequeno antes do período de 4 a
6 meses pode ser perigoso. A começar pelo fato de que ele vai deixar de
receber os benefícios do leite materno muito cedo. Além disso, com um
sistema gastrointestinal imaturo, o bebê está mais propenso a
desenvolver alergias e contrair infecções. "Qualquer bactéria pode
levá-lo a ter diarreia, vômitos e desidratação", alerta Fabíola Suano,
da SPSP.
Para completar, a má absorção de nutrientes pode levar tanto à chamada fome oculta
(que é a carência de vitaminas e minerais) quanto ao excesso de peso.
"Ao comer uma batata, por exemplo, a criança pode absorver tudo que tem
ali e não eliminar nada. E aí, ela fica obesa", exemplifica Virgínia
Weffort.
Oferecer alimentos diferentes muito tarde também é negativo. É que,
com todas essas transformações, a amamentação exclusiva não dá mais
conta do recado. "E não é que o leite ficou fraco, a criança é que
cresceu", justifica a docente da UFTM. Por isso, ela precisa de mais
nutrientes - que serão recebidos via frutas, verduras, legumes, carnes e
cereais. Se não contar com esse aporte extra, o seu desenvolvimento pode ser comprometido.
Bebês que se alimentam por fórmulas
Para eles, a regra é a mesma: a alimentação complementar deve
acontecer aos 6 meses. No entanto, dependendo do crescimento da criança,
pode ser que o pediatra antecipe a introdução. "É que a fórmula não tem
a mesma variedade de fatores imunológicos que o leite materno", pondera
Weffort.
E os prematuros?
A introdução da alimentação complementar daqueles que vieram ao mundo
antes dos nove meses deve ser feita com mais cuidado. Isso porque, se o
bebê foi um prematuro extremo ou nasceu com muito baixo peso, deve-se
levar em conta a idade corrigida, ou seja, considerar o período que ele
levaria para completar 40 semanas de gestação. "Essas crianças costumam
ser mais imaturas em relação a órgãos, sistemas, enzimas... É um neném
mais devagar", resume Ary Lopes Cardoso, do Instituto da Criança. Já os
prematuros que se desenvolvem normalmente e têm um bom crescimento estão
aptos para fazer a introdução aos 6 meses.
Fonte:http://m.mdemulher.abril.com.br/saude/bebe/desenvolvimento-do-bebe-por-que-a-introducao-dos-solidos-deve-acontecer-aos-6-meses
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